segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Comensalidade: passagem do animal ao humano

Mais uma espiga maravilhosa pega do chão.rsrsr. Segue aí excelente artigo copiado a partir do site http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514527-comensalidade-passagem-do-animal-ao-humano

Comensalidade: passagem do animal ao humano

Etnobiólogos e arqueólogos nos acenam para um fato singular. Quando nossos antepassados antropoides saíam a recoletar frutos, sementes, caças e peixes, não comiam individualmente. Tomavam os alimentos e os levavam ao grupo. E aí praticavam a comensalidade, o que significa: distribuíam os alimentos entre si e comiam-nos comunitariamente. Esta comensalidade permitiu o salto da animalidade em direção à humanidade. Essa pequena diferença faz toda uma diferença", escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor, em artigo publicado no Jornal do Brasil, 14-10-2012.
Segundo ele, "o que ontem nos fez humanos continua ainda hoje a fazer-nos de novo humanos. E se não estiver presente, nos faremos desumanos, cruéis e sem piedade. Não é esta, lamentavelmente, a situação da humanidade atual?"
Eis o artigo.
A especificidade do ser humano surgiu de forma misteriosa e de difícil reconstituição histórica. Mas há indícios de que há 7 milhões de anos partiu de um ancestral comum, que teria começado a separação lenta e progressiva entre os símios superiores e os humanos.

Etnobiólogos e arqueólogos nos acenam para um fato singular. Quando nossos antepassados antropoides saíam a recoletar frutos, sementes, caças e peixes, não comiam individualmente. Tomavam os alimentos e os levavam ao grupo. E aí praticavam a comensalidade, o que significa: distribuíam os alimentos entre si e comiam-nos comunitariamente. Esta comensalidade permitiu o salto da animalidade em direção à humanidade. Essa pequena diferença faz toda uma diferença.

O que ontem nos fez humanos continua ainda hoje a fazer-nos de novo humanos. E se não estiver presente, nos faremos desumanos, cruéis e sem piedade. Não é esta, lamentavelmente, a situação da humanidade atual?

Um elemento, produtor de humanidade, estreitamente ligado à comensalidade, é a culinária, vale dizer, a preparação dos alimentos. Bem escreveu Claude Lévi-Strauss, eminente antropólogo que trabalhou muitos anos no Brasil: ”O domínio da cozinha constitui uma forma de atividade humana verdadeiramente universal. Assim como não existe sociedade sem linguagem, assim também não há nenhuma sociedade que não cozinhe alguns de seus alimentos”.

Há 500 mil anos o ser humano aprendeu a fazer fogo e a domesticá-lo. Com o fogo começou a cozinhar os alimentos. O “fogo culinário” é o que diferencia o ser humano de outros mamíferos complexos. A passagem do cru ao cozido é considerada um dos fatores de passagem do animal ao ser humano civilizado. Com o fogo surgiu a culinária, própria de cada povo, de cada cultura e de cada região.

Não se trata nunca de apenas cozinhar os alimentos mas de dar-lhes sabor. As várias culinárias criam hábitos culturais, não raro vinculados, entre nós, a certas festas como o Natal (o peru), a Páscoa (ovos de chocolate), primeiro do ano (carne suína), a festa de São João (milho assado) e outras.

Nutrir-se nunca é uma mecânica biológica individual. Consumir comensalmente é comungar com os outros que conosco comem. É comungar com as energias cósmicas que subjazem aos alimentos, especialmente a fertilidade da terra, o sol, as florestas, as águas e os ventos.

Em razão deste caráter numinoso do comer/consumir/comungar, toda comensalidade é de certa forma sacramental. Embelezamos os alimentos, porque não comemos só com a boca mas também com os olhos. O momento do comer é um dos mais esperados do dia e da noite. Há a consciência instintiva e reflexa de que sem o comer não há vida nem sobrevida, nem alegria de existir e de coexistir.

Durante milhões de anos os seres humanos eram triibutários da natureza, tiravam dela o que precisavam para sobreviver. Da apropriação dos frutos da natureza evolui-se para a sua produção mediante a criação da agricultura que supõe a domesticação e o cultivo de sementes e plantas.

Por volta de 10 a 12 mil anos atrás, ocorreu talvez a maior revolução da história humana: de nômades, os seres humanos se fizeram sedentários. Fundaram as primeiras vilas (12.000 a.C.), inventaram a agricultura (9.000 a.C.) e começaram a domesticar e a criar animais (8.500 a.C.). Criou-se um processo civilizatório extremamente complexo, com sucessivas revoluções: a industrial, a nuclear, a cibernética, a da nanotecnologia, a da informação até alcançar o nosso tempo.

Primeiramente, domesticaram-se vegetais e cereais selvagens, provavelmente, por mulheres mais observadoras dos ritmos da natureza. Tudo parece ter se iniciado no Oriente Médio entre os rios Tigre e Eufrates e no vale do Indus da Índia. Ai se domesticou o trigo, a cevada, a lentilha, a fava e a ervilha. Na América Latina foi o milho, o abacate, o tomate, a mandioca e os feijões. No Oriente foi o arroz e o milhete. Na Africa, o milho e o sorgo. Em seguida, por volta de 8.500 a.C. se domesticaram espécies animais, a começar pelas cabras, carneiros, depois o boi e o porco. Entre os galináceos a galinha foi a primeira. Tudo foi facilitado com a invenção da roda, da enxada e do arado e de outros utensílios de metal por volta de 4.000 a.C.

Estes poucos dados hoje são levantados cientificamente por arqueólogos e etnobiólogos, usando as mais modernas tecnologias do carbono radioativo, do microscópio eletrônico e da análise química de sedimentos, de cinzas, de pólens, de ossos e carvões de madeiras. Os resultados permitem reconstituir como era a ecologia local e como se operava a utilização econômica por parte das populações humanas.

Ao plantar e colher trigo ou arroz elas podiam criar reservas, organizar a alimentação dos grupos, fazer crescer a família e assim a população. Teve que ganhar a vida com o suor do seu rosto. E o fez com furor. O avanço da agricultura e da criação de animais fez desaparecer lentamente a décima parte de toda a vegetação selvagem e de animais. Não havia ainda a preocupação com a gestão responsável do meio ambiente. E é também difícil de imaginá-la, dada a riqueza dos recursos naturais e a capacidade de regeneração dos ecossistemas.

De todas as formas, o neolítico pôs em marcha um processo que nos alcança até os dias de hoje. A segurança alimentar e o grande banquete que a revolução agrícola poderia ter preparado para toda a humanidade, no qual todos seriam igualmente comensais, não pôde ser ainda celebrado. Mais de 1 bilhão de seres humanos estão ao pé da mesa, esperando alguma migalha para poderem matar a fome.

A Cúpula Mundial da Alimentação celebrada em Roma em 1996 que se propôs erradicar a fome até 2015 diz que “a seguridade alimentar existe quando todos os seres humanos têm, a todo o momento, um acesso físico e econômico a uma alimentação suficiente, sã e nutritiva, permitindo-lhes satisfazer suas necessidades energéticas e suas preferências alimentares a fim de levar uma vida sã e ativa”. Esse propósito foi assumido pelas Metas do Milênio da ONU. Lamentavelmente, a própria FAO comunicou em 1998 e agora a ONU que estes propósitos não serão alcançados a menos que se supere o fosso demasiadamente grande das desigualdades sociais.

Enquanto não dermos este salto, não completaremos nossa humanidade. Esse é o grande desafio do século XXI: tornarmo-nos plenamente humanos.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Crise Ambiental e Cristianismo: o papel da Igreja na sustentabilidade

Em Junho, quando dos eventos da Rio+20, tive o prazer de participar da Cúpula dos Povos e ouvir duas vezes a palestra do Cláudio Oliver, a qual abaixo está transcrita. Uma eu assisti na Catedral Presbiteriana do Rio e a outra foi no instituto Bennet. Confesso que sua fala repercute ainda em mim ecoando em termos de pensamentos mais maduros e conceitos que se afastam de paradigmas e rumam a novas formas de se pensar ecologia e educação ambiental. Segue abaixo a sua fala na mesa de diálogo "Crise Ambiental e Cristianismo: o papel da Igreja na sustentabilidade".


Crise Ambiental e Cristianismo: o papel da Igreja na sustentabilidade
Uma mesa de Diálogo com Marina Silva, Michelon e Dellambre
Cúpula dos Povos – durante Rio +20
Claudio Oliver

Como algumas pessoas me pediram, segue abaixo a transcrição de minha fala na mesa de diálogo realizada no dia 16/6/2012, no Rio de Janeiro

“Que bom é que se reúnem representantes de igrejas para poder falar sobre a crise ambiental e poder ver a igreja finalmente se debruçando sobre este tema.
Obviamente não se pode deixar de notar que esta preocupação e debruçar chegam com 20 anos de atraso (seriam 40? O que estávamos discutindo quando o relatório do Clube de Roma nos alertou quanto à necessidade de darmos limites ao crescimento em 1972?). Vinte anos de atraso para a igreja moderna perceber algo mais quente no ar.
Igualmente é bom que se esteja discutindo tal tema, pois pelo menos se pode observar que parte da igreja deixa de confundir o fim do presente sistema ou do sistema-mundo (aion) com o fim da criação (Kosmos). Consciente ou inconscientemente, isso representa a retomada de uma tradição que inclui a vitória sobre a morte, a perspectiva da restauração e a retomada da responsabilidade sobre o planeta como expressão da relação com Deus.
No entanto, essa possibilidade implica em um risco de, sem perceber, se continuar permitindo que a narrativa a dirigir e informar a agenda e a ação da igreja (como tem sido praxe na história moderna da igreja) continue sendo imposta de fora para dentro, a partir do centro e da lógica do sistema e do império presentes.
A relação do ser humano com a terra abre e fecha a narrativa bíblica. Somos seres formados da terra fértil (Adamá), não da argila pouco intemperizada . Somos seres do horizonte A do solo. Adamá é a matéria prima da qual é feito Adam ( o ser humano), ou se preferir a versão latina, o húmus que dá origem à humanidade e também à humildade, posição necessária para se aproximar e tratar do assunto. Nossa rebeldia foi a primeira coisa a trazer maldição sobre a terra, o solo se torna gerador de plantas daninhas e de luta para comer (Gen. 3:17). Da mesma forma no fim da Bíblia, os vinte quatro anciãos cantam a pauta que guiará o julgamento final: “E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra.” Apocalipse 11:18 (sem grifo no original). Ao deixarmos de lado essa abertura e fechamento do tema nas escritura - e o fato de que o tema da terra e de seu cultivo estão presentes em um de cada três capítulos da Bíblia - para assumirmos a lógica do sistema (a da economia e das finanças) e do Império presente (o do deus mercado e de seu único e suficiente mediador: o dinheiro) como ponto de partida – agora como uma tal “economia verde” - patinamos, somos mais uma vez rebocados e corremos o risco de deixar de enxergar possibilidades.
Na minha humilde opinião, insistir em não tocar em algumas “vacas sagradas”, em alguns “dados como certo”, nos coloca na posição e na agenda que nos leva de reboque por um mundo que corre em velocidade máxima para o abismo e para o colapso. No mínimo, e por misericórdia, tal posição pode nos fazer inócuos diante do quadro atual.
Algumas “vacas sagradas do sistema precisam, como eu disse, ser desafiadas:
- O MITO DO PROGRESSO ETERNO. Um mito que só pode ser crido por um louco ou por economistas da ordem presente, que crêem em um crescimento permanente em um mundo finito, sem se darem conta que a única coisa a crescer indefinidamente é um câncer. Este mito que divide e oprime seres humanos que optam pela vida simples como se fossem cidadãos de segunda categoria, ou que acusa de sectários aqueles que não aceitam acriticamente a máxima de que todo progresso é benvindo. Foi o progresso que deu origem à próxima vaca sagrada.
-A CRENÇA NO DESENVOLVIMENTO COMO OBJETIVO. Ao ser aceito como objetivo a ser buscado, a busca pelo deenvolvimento nos desvia de um outro objetivo estabelecido e proposto por aquele que nos chamou a ser sua igreja. Ele não disse “ Eu vim para que vocês se desenvolvam”, mesmo que esse desenvolvimento seja sustentável. A razão pela qual Ele veio e nosso objetivo proposto por ele é outro: a vida abundante, uma expressão infelizmente confundida com vida com excesso, como a que nos propõe a lógica do consumo e da intermediação monetária, seja esta consciente, sustentável ou qualquer outra. Precisamos reencantar e reassumir a abundância como opção ao excesso, e nos arrepender do excesso de tudo que o mercado nos oferece, de comida a educação, de facilidades a delegação de responsabilidades. E para que todos tenham acesso a esta abundância é mister que se mexa em outra “vaca sagrada”: A ECONOMIA.
-Essa ciência somente existe se crermos, como ela e seus promotores insistem em repetir, em um mundo escasso, o que coloca Deus em uma posição de incompetência de origem como criador, ao ter pensado e realizado tal mundo sem capacidade de sustentar-se. E nos diminui a seres cheios de necessidades ilimitadas, das quais somos insaciáveis, o que nos transforma na imagem e semelhança de uma bactéria patogênica causadora do consumo (o nome antigo da tuberculose). Esta auto-imagem de consumidor nos afasta do caminho proposto do domínio próprio e da celebração dos limites, da renúncia e do sagrado. Conceitos que estão na origem do caminho proposto pelo mestre.
-Precisamos recordar que o termo “desenvolvimento sustentável” foi estabelecido pela médica norueguesa Gro Harlem em 1983, como reação à constatação feita pelo Clube de Roma quase onze anos antes de sua invenção, de que era imperativo IMPOR LIMITES AO CRESCIMENTO. Esta constatação deu origem a uma outra agenda bem mais interessante: a do DECRESCIMENTO (proposta por Nicholas Georgescu-Roegen, o pai da bioeconomia e propagandeada hoje por Serge Latouche). Mas antes de tudo, ela nos remete a lembrança de algo muito anterior e próprio do cristianismo: aprender a viver satisfeito, celebrar os limites, abraçar a renúncia e sacralizar a vida – aqui ditas não como palavras bonitas mas como proposta de agenda agressiva e antissistêmica radical. Na minha humilde opinião esta me parece muito mais coincidente com o ensino do mestre Jesus e com o caminho que a de um desenvolvimento, seja ele de que tipo for. Jesus é aquele que assumiu sua agenda pelo princípio da Kenosis (o esvaziamento das prerrogativas e direitos). Impõem-se a nós a mesma atitude que nele houve (Fil. 2:5) e a prioridade de assumir uma “agenda kenótica para o planeta” COM URGÊNCIA! Abrindo mão de direitos e assumindo, ou reassumindo, as nossas obrigações. Deixando de lado os sonhos de grandeza, não só dos mascates da telefé, como se costuma ter em mente, mas também de nossos pequenos reininhos ministeriais e colocando no lugar desses sonhos, a imaginação necessária para se aprender a viver uma vida simples, pacata e quieta. Abrindo mão de prerrogativas e voltando a indicar o caminho pelo exemplo e não pela liderança.
Por fim, podemos assumir uma postura de lealdade se voltarmos a lembrar à imagem de quem fomos criados e a partir dessa imagem construir outras narrativas a nos informar para a vida. Como já disse, não somos consumidores, a defender nossos “direitos”. A primeira declaração da Bíblia é de que somos imagem e semelhança de um Deus generoso, criativo, bondoso e cuidadoso nos detalhes. Ele nos colocou em um jardim para o observar (Avad) e para o guardar e preservar ( Shamar), Gen. 2:15. Olhar para a terra como nosso origem, nossa casa e nossa primeira identidade, como gente do solo, é reassumir tais princípios e assim nos colocarmos na dianteira de uma mundo que sofre com dores de parto e aguarda a manifestação daqueles que se chamam a si mesmos de “filhos de Deus”
A Ele , toda a glória.”
 
Lido, copiado e compartilhado a partir do blog do Cláudio Oliver: http://naruacomdeus.blogspot.com.br/

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O Deus evidente. Ele, eu, nós e o todo. Uma crônica de São Francisco de Assis e eu.

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino". (I Coríntios 13)
O verdadeiro cristão vê nos elementos do meio ambiente, sobretudo os seres vivos, expressão da glória de Deus. Nós chamamos Deus de o Deus vivo. Tudo que aponta para a possibilidade de vida aponta para o Deus vivo. A imagem e semelhança de Deus,que é o homem, deve ser um ser integral, assim sendo compreender-se como um meio ambiente dentro de outro meio ambiente, ao mesmo tempo parte que forma uma unidade, um corpo vivo formado por eu, o outro, o ambiente e Deus. Somos chamados para sermos desenvolvedores da vida e co-criadores com Cristo. O que posso dizer do que não se encaixa nisso? A verdade é que as crenças que se referem a não ausência de Deus ou ainda as crenças que se referem a transformação de algo em Deus, ou ainda a divinização das leis físicas do universo (fé impessoal) não podem celebrar a realidade da vida, realmente. Jesus é o Caminho encarnado, o próprio Deus que se achega a tudo o que ele mesmo criou. É o Deus da vida que se achega ao meio ambiente criado, que vem reidentificar e resignificar sua imagem e semelhança (o homem), diante da sua natureza. É o Deus encarnado que participa da história da vida e é a própria celebração da vida em pessoa.
Desde pequeno eu admirava e me encatava com a ecologia e o cuidado com o meio ambiente. Algo de dentro pra fora me levava a esse sentimento. Como adulto, Quando ainda na faculdade de Biologia essa admiração se completou, sobretudo porque foi ali na sala de aula que fui vendo cada vez mais como havia um Deus que abarcava toda a vida. Foi nessa época que minha fé foi se firmando. Ainda hoje me mantenho na fé de ser cristão, mas esta fé foi se desenvolvendo, minha salvação vem se desenvolvendo. Há anos atrás vi o Verbo que encarnou. Pouco tempo atrás vi Jesus lavrando a terra logo depois de ressucitar. Hoje vejo Deus no lixo, comigo e com os oprimidos. "Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Diferentemente da visão de determinadas filosofias humanas que divinizam seres vivos, ou o próprio planeta, pois que não conseguem ver a realidade de uma maneira complexa e sistÊmica, antes compartimentam as coisas, vêem separadamente as coisas, posso ver o Deus da vida. Sou grato a Deus pela vocação que ele me deu, ser biólogo, mas ao mesmo tempo poder fazer outras coisas, sou grato por trabalhar com o lixo, sou grato por nesses quase dois anos ter encontrado pessoas em quem posso me conectar e criamos vínculos. Sou grato porque o Reino dos céus é como uma semente de mostarda e eu vi isso ontem com minhas duas irmãs do coletivo do qual eu também faço parte, o Igrejas Ecocidadãs.

Acerca disso tudo só me resta lembrar do que Paulo o apóstolo dos gentios disse:

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor". 1 Coríntios 13:11-13.

 Prosseguindo no altar do Cristo Deus vivo,

Jorge Tonnera Jr


Adriane Pires Maia e Priscila Machado. Esqueci de citar vocês. Bom ser do Caminho. Bom inclusive por caminhar com vcs. É quando encontramos pessoas no Caminho que nos fazem olhar e ver que somos um coletivo pelo simples fato de sermos cristãos. É quando encontramos pessoas como vcs que eu posso olhar e ver que nossa escolha de vida, de fé, é a escolha certa.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm: o historiador que sabia pedalar


Como amante de bicicletas e ciclista há algum tempo, cada vez entra em minhas veias a questão da mobilidade urbana, inclusive pela própria condição atual de vida minha enquanto carioca usuário de transporte público numa cidade cheia de pessoas e de carros, compartilho essa jóia relacionada ao historiador Eric Hobsbawm, que morreu nessa semana.


Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514176-eric-hobsbawm-o-historiador-que-
sabia-pedalar

Eric Hobsbawm: o historiador que sabia pedalar

O historiador Eric Hobsbawm, que morreu nesta segunda-feira (1º) em Londres,
aos 95 anos, era um entusiasta da bicicleta. O comentário é de Alexandre Costa
Nascimento em artigo na Gazeta do Povo, 01-10-2012.
Eis o artigo.

Uma das mentes mais influentes de seu tempo, Hobsbawm, durante a juventude, fez
uma viagem de bicicleta com seu primo Ronnie explorarando o sul da Inglaterra e
o norte do País de Gales.
Em um trecho do livro Tempos interessantes: uma vida no século XX, o
historiador classifica a bicicleta como um dos instrumentos mais importantes da
história, compararável à prensa de Gutenberg.
Segundo ele, o veículo de duas rodas é o único sem desvantagens óbvias e que
oferece a plena realização das possibilidades de ser humano.
O intelectual, que usou os princípios do marxismo para explicar o mundo atual,
publicou seu último livro em 2011, sob o título Como mudar o mundo. Entre suas
obras mais destacadas, que influenciaram gerações de historiadores, estão Era
dos Extremos: o Breve Século XX: 1914 - 1991 e Globalização, Democracia e
Terrorismo.
Leia o trecho em que o historiador relata sua visão sobre a bicicleta:
Até mesmo a forma de transporte que nos libertou era barata, pois nós, ou
nossos pais, seguimos o conselho dos anúncios na traseira dos ônibus londrinos
de dois andares: 'Desça desse ônibus. Ele jamais será seu. Compre uma bicicleta
por dois pence por dia'.
Com efeito, com poucas prestações semanais podia-se comprar a bicicleta – no
meu caso uma brilhante Rudge-Whitworth, que custava mais ou menos cinco ou seis
libras. Se a mobilidade física é condição essencial da liberdade, a bicicleta
talvez tenha sido o instrumento singular mais importante, desde Gutenberg, para
atingir o que Marx chamou de plena realização das possibilidades de ser humano,
e o único sem desvantagens óbvias.
Como os ciclistas se deslocam à velocidade das reações humanas e não estão
isolados da luz, do ar, dos sons e aromas naturais por trás de pára-brisas de
vidro, na década de 30, antes da explosão do tráfego motorizado, não havia
melhor maneira de explorar um país de dimensões médias com paisagens tão
surpreendentemente variadas e belas.
Com a bicicleta, uma tenda, um fogareiro a gás e a novidade da barra de
chocolate Mars, explorei com meu primo Ronnie (que a pronunciava “Marr”, como
se fosse em francês) grande parte das belezas civilizadas do sul da Inglaterra,
e, numa memorável excursão de inverno, também as mais selvagens do norte do
País de Gales.
(HOBSBAWM, E. Tempos interessantes: uma vida no século XX. ISBN 85-359-0300- 3.
S.Paulo: Companhia das Letras, 2002. pp. 107-108)
 


Bicicleta modelo Rudge-Whitworth, semelhante a usada por Hobsbawm para pedalar

pela Inglaterra. Na época modelo custava o equivalente a R$ 20.

Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514176-eric-hobsbawm-o-historiador-que-
sabia-pedalar
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