segunda-feira, 6 de junho de 2011

Código Florestal e a agrofloresta, um conceito contra uma Retórica de Sesmarias.

Código Florestal e a agrofloresta, um conceito contra uma Retórica de Sesmarias.

Devemos ter o cuidado de não cair nos erros midiaticos e partidários de polarizar uma situação envolvendo tantos fatores e atores em como sendo "os bons" e "os mals" ou "os certos" e "os errados". É evidente que o conflito traz a tona interesses e ideologias diversas.

Queria também dizer antes de mais nada que não sou contra modificações no Código Florestal, de forma que penso que ele necessita ser atualizado assim como qualquer lei que se preste a ser objeto de legalidade de uma sociedade que sempre se transforma e evolui. No entanto, me posiciono a favor de modificações conquanto seja atualizado para as boas práticas existentes hoje. E não simplesmente atualizadas para um contexto socioeconômico pilantra como o nosso e que sirva de capricho de uma minoria que detém uma massa de manobra e que mais faz o pequeno agricultor refém de um mercado babilônico do que o auxilia a se desenvolver.

Que fique bem claro aqui ou em qualquer outro lugar que "Ecologia" não é ideologia! Ecologia não é sinônimo de ecologismo ou ecologista ou ambientalismo. Ecologia é ciência e como tal deve ser encarada com embasamentos e comprovações.

Particularmente para os que brigam pela modificação da reserva legal as florestas por vezes são impecilhos. Deveriam pelo menos antes mesmo de conhecer o Código Florestal conhecer o "Código das florestas". Código das florestas que me refiro aqui é a maneira como as florestas são imprescindíveis ao que está no entorno inclusive para sua produção.

Então como estamos falando agora de ecologia e não de ecologismo. Vejamos o que a ecologia nos mostra e diz. Gostaria de destacar um conceito-prática chamado "agrofloresta", que é um ecossistema florestal produtivo em consórcio de plantios. A agrofloresta é uma dinâmica que faz parte do conceito chamado de agroecologia, o qual representa técnicas e conhecimento  e conceitos agrários, ecológicos, sociais e econômicos. Tal conceito se expandiu já em meados da década de 90, embora algumas de suas representações existissem já há várias décadas antes.

É um conjunto de técnicas que maximiza o uso do ambiente e parte do princípio que para sustentar uma produção agrária é necessário o uso racional dos recursos naturais, pois caso contrário essa produção irá se extinguir. É preciso antes de mais nada enchergar que tudo o que está a sua volta, pode e deve ser um recurso bem empregado, desde o clima até os insetos.

Através das técnicas de agroecologia como a agrofloresta as florestas não são empecilho para o pequeno proprietário e podem ser manejadas em qualquer ambiente, seja na caatinga ou na amazônia, e sim um meio de habitar ou um substrato a sua produção. Muito mais que uma conciliação em termos de produção e conservação a agrofloresta representa algo mais profundo: é a mudança na maneira de como nos relacionamos com a vida, especialmente o em relação ao termo natureza, o qual abrange a espécie humana.

A lógica desse tipo de agricultura é ser tão parecido quanto possível com a forma natural que a natureza se desenvolve, sendo esta agricultura dentro da floresta e não fora ou ao redor. Nesse sistema o agricultor pode extrair não somente uma produção apenas, mas várias como frutas, legumes e verduras até madeira, leite e mel entre outras. Além disso a mata é uma fonte rica e de princípios bioativos (remédios), além de essências. Através dessas parcerias entre culturas como ervas e arbustos, ou ainda gado e plantações, por meio de uma combinação de espaços como consórcios as agroflorestas são tão produtivas que Ernst Götsch, um dos fundadores do movimento agroflorestal no Brasil, viu 17 riachos nascerem, uma vez sua agrofloresta estabelecida num determinado lugar.
Na agroecologia a agricultura é vista não como um sistema fechado mas é considerada um ecossistema, sendo assim um sistema aberto e vivo. Como todo ecossistema possui pricncípios e padrões organizacionais que encontramos desde o corpo humano ao planeta e são padrões que encontramos em todo sistema vivo, da mesma forma na agricultura busca-se encontrar esses padrões e aplicar os princípios que capacitam a vida existir de maneira orgânica na Terra. Alguns desses princípios e padrões são: diversidade (várias espécies convivendo num mesmo espaço), o que gera maior quantidade de relações e acaba implicando em maior capacidade responsiva desse sistema resistir a problemas e intemperies naturais ou não como pragas ou chuvas. Reciclagem, é outro princípio elementar. Os nutrientes fazem parte de ciclo de idas e vindas entre solo e organismos e o que o ser deixa isso se transforma em útil para o solo ou outro ser. A renovação do solo por processos naturais nesse caso é fundamental. Da mesma forma que uma floresta não requer uma adubação de elementos introduzidos pelo homem por ser ela solo vivo, biologicamente ativo e sempre fértil devido a constante queda de folhas e a rápida degradação destas pelos insetos e microorganismos vivos dessa terra a agricultura também não deveria necessitar de agrotóxicos e fertilizantes industriais. Os agricultores da agroecologia vêem a lavoura e a criação de animais como produtoras de adubos naturais através de resíduos orgânicos. Alguns métodos nesse caso são: adubação verde (cultivo consorciado a plantação de fim economico que irá estruturar o solo descompactando com suas raízes fortes e que enriquecem o solo com nutrientes  atarvés do volume de massa verde (folhas e a própria planta quando morre que é devolvida ao solo). Adubação orgânica que é a adubação feita com resíduos orgânicos como cobertura de folhagens mortas, esterco ou ainda uma adubação mineral com pós de rochas.

Na perspectiva da agroecologia insetos não são pragas e sim agentes, praga é uma disfunção na natureza que deve ser corrigida mexendo nos elementos desse sistema e não com agrotóxicos, doenças são falta de nutrientes relacionados a distribuição desses no solo ou a capacidade de assimilação dessa planta ficando sucetível a ataques de insetos e gerando pragas.

A diversificação do uso desse espaço permite a exploração de produtos em épocas diferenciadas. A rotação de culturas segue um modelo parecido com o princípio do descanso da terra citado na lei mosaica na Bíblia, pois permite a manutenção do solo. A Bíblia nos dá um princío de plantio. Diz que é preciso dar tempo ao solo para este descansar e assim se recompor de nutrientes. É o sábado da terra, um tempo de descanso para o solo de 7 em 7 anos. Uma agrofloresta permite essa organização e se dá ao luxo de mudar e dar tempo para a vida da terra e do agricultor em termos de descanso também.
O segredo para isso tudo está justamente na combinação de plantio dentro de um espaço ricamente diverso que é a floresta.

A agrofloresta se implanta através um processo de sucessão ecoplógica tal como na natureza: primeiro os estratos pioneiros e menores e depois os estratos maiores e climáxicos. É possível baseado nisso adaptar a sucessão natural encaixando uma fase na outra num mesmo período de tempo. É claro que isso tudo demandaria força de vontade e apoio técnico dos governos nas três esferas, principalmente federal.

Em todo caso vê-se com isso que É ótimo, sobretudo ao pequeno produtor, principal personagem usado na discussão do Código florestal usada pelos latifundiários e grandes agropecuaristas. Não são os pequenos produtores os reais interessados nessa discussão, mas os interesses privados da bancada ruralista são conhecidos desde séculos atrás, já que o Brasil sempre foi impiedoso quanto a questão agrária desde sesmarias e sabemos que quanto maior uma terra, mais ela vale, então nisso não importa a forma de uso e sim o valor dela. Não se trata de espaço, mas de valor de venda desse espaço. Por isso mesmo esse pequeno grupo pouco estaria interessado em uma modalidade alternativa de produção. Creio eu...

A agricultura deve ser vista e de fato foi um avanço da civilização. No entanto, a forma que se faz essa agricultura é que é um atraso de vida, assim como a forma de tutela da terra, entre ser dono ou mordomo da terra. Estamos falando de latifundio, estrutura fundiária opressora servil. Temos casos aqui no Brasil interessantes de comunas como os faxinais do sul do Brasil que são exemplos de como não precisamos ter apenas um modelo de planejamento das coisas.

Sabe-se que modelos baseado na produção em série e com pouca ou nehuma diversificação é resultado do capitalismo. Dessa mentalidade humana de estar acima dos princípios organizadores de vida. Daí subentende-se que a monocultura, precisa de grandes áreas de terra e por não ter diversidades genéticas e outras espécies e não usar os recursos a sua volta é muito comum tão logo o surgimento de pragas. Também não atoa o mutualismo entre escravidão e monocultura é quase implícito. Isso sem contar os casos de ter que canalizar a fonte de água, pois que certas culturas requerem bem mais águas e num espaço sem florestas o quantitativo de chuva e rios caem. Esse modelo colonial perdura já a centenas de anos tal como a escravidão que vira e mexe se encontra nas plantações monoculturais de vários lugares do Brasil. Enquanto a agricultura tradicional degrada ao meio em que se vive ao consistir em aplicar um grande esforço em uma só cultura gera eliminando gradualmente a diversidade biólogica dali e do entorno logo vai gerando pragas o que requer aumneto do uso de defensivos agrotoximos e agrofertilizantes, degradando o solo e consequentemente gerando fraqueza a planta, caindo nesse ciclo vicioso maldito que aprisiona os pequenos produtores.

E como todo modelo de desenvolvimento que subtrai a natureza que esta a sua volta há sempre uma crescente produção e que em dado momento demonstra a dificuldade e impossibilidade de perdurar por bastante tempo, uma vez que não reconhece os ecossistemas e os serviços ecológicos associados as espécies que fazem parte do lugar. E como todo modelo que subtrai a natureza em favor unicamente do homem, particularmente de um pequeno grupo de homens, o próprio ser humano é subtraido por este modelo ao longo do tempo. É o que de fato acontece a anos nesse ciclo de pobreza que encontramos muito por exemplo na região norte, onde o produtor derruba uma parte da floresta e depois da terra definhar e ter todos os seus recursos esgotados num curto período de tempo ele ruma como nômade e derruba uma parte da floresta logo ao lado até que chegue um grileiro e o expulse.

As retóricas de semarias são frágeis diante da verdade. Por exemplo, o Brasil é campeão mundial de uso de agrotóxicos justificado a princípio por este ser também o campeão na produção mundial de alimentos. Ora, não é essa a analogia que se faz mais ou menos com o Codigo Florestal? Por exemplo, o pequeno agricultor precisa de mais espaço para plantar mais e sobreviver melhor. Mas o que de fato se constata é que o Brasil não é campeão no uso agrotoxico por ser grande produtor, mas por que outros países proibiram determinados agrotóxicos. Da mesma forma que o Codigo Florestal há uma inverdade nessa história toda. O Brasil não perde produção por conta de espaço, mas por conta de um modelo produtivo desfavorável além da presença existente de vários latifúndios, os quais permitem muitas terras para uns poucos proprietários e poucas terras para muitas pessoas a produzir.

Só para termos idéia logo que houve perspectiva de afrouxamento da legislação com o novo Código Florestal ocorreu uma explosão no desmatamento na Amazônia que fez com que o Ibama suspendesse todas as suas operações de fiscalização no país para concentrar esforços na contenção da derrubada.

Essa discussão sem o valor espiritual é apenas um conflito de interesses. Mas havendo o espiritual em tudo há de se ver que a justiça pertence ao Reino e seu Princípe Cordeiro Deus.

A agroecologia e particularmente o conceito de agroflorestas possui uma visão unificadora por ser integral, holística e sustentável. Busca resgatar o valor social e a importãncia do homem bem como a sua integração com a vida de uma forma geral. É como o mandato cultural bíblico dito em Genesis 2.15: "Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar." Naturalmente esse jardim era algo muito mais sofisticado do que um jardim que conhecemos hoje. Provavelmente estaria mais para uma floresta, ou melhor, uma agrofloresta que um campo. Aliás quando olhamos uma floresta do ponto de vista agroecológico podemos realmente observá-la como um jardim. É o conhecimento empírico de séculos construídos pelas famílias de agricultores junto do conhecimento científico.

Como disse no início uma lei que se preza não pode ser impecilho para desenvolvimento de pessoas e do próprio país, de tal forma que ou mudamos a lei ou mudamos a forma de como a sociedade produz e se organiza. Nesse caso proponho talvez os dois me posicionando a favor de modificações em virtude de uma evolução em prol de novas práticas de desenvolvimento sustentável: técnicas, metodologias e educação já existente e presentes aqui mesmo no Brasil, incluindo aí as técnicas de agroecologia e mudanças na organização da distribuição de terras. A discussão do Código Florestal sem a justa discussão da reforma agrária é nula.

"Procurai, em primeiro lugar, o Reino de Deus, e tudo o mais vos será acrescentado. - Matheus, 6:33.

Se as flores, as árvores, os insetos e demais animais, o sol, a chuva, o céu, as nuvens, os morros (incluindos seus topos), as matas ciliares e suas respectivas beiras de rios, além dos próprios rios bem como o mar,  enfim, a os condicionantes de vida não pertencem e nem são parte do Reino de Deus, então, o Reino de Deus não é a vontade de Deus.
  Que todos saibam que Deus luta pela causa da terra. Ele luta pelo homem em primeiro lugar e por ser zeloso pelo que faz. A terra e as florestas são criações do Senhor Deus. Calem-se diante dele toda a terra (cale-se toda a criação sobretudo primeiramente o homem!)(Habacuque 2: 20).

"E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado. E o SENHOR Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal" Gênesis 2.8-9

A verdadeira agricultura é isso. Ela é Cristocêntrica. Deus Jesus é o centro e o homem é a manifestação produtiva criativa de seu reflexo visível no universo. Jesus criou um agroflorestador; não um latifundiário.

Termino aqui esse texto deixando um lindo texto salmista que me maravilhei hoje nesses dias logo pela manhã. Considero uma das mais belas poesias declamadas para Deus. Se encontra no Salmo 65. Veja como esse salmo relata algo como o resultado final de uma agrofloresta. Eu pessoalmente fiquei chocado. Deus sabe, Deus revela, Deus ensina!

Salmo 65: Versículos 9 - 13

Tu visitas a terra e a regas;
Tu a enriqueces copiosamente;
Os ribeiros de Deus são abundantes de água;
Preparas o cereal,porque para isso a dispões,
Regando-lhe os sulcos, aplanando-lhe as leivas.
Tu a amoleces com chuviscos e lhe abençoas a produção.
Coroas o ano da tua bondade;
As tuas pegadas destilam fartura,
Destilam sobre as pastagens do deserto (da Caatinga)*,
E de júbilo se revestem os outeiros.
Os campos cobrem-se de rebanhos,
E os vales vestem-se de espigas;
Exultam de alegria e cantam.

* Caatinga foi acréscimo meu.

Jesus é o Senhor da terra!
Abençoe a terra, abençoe o céu,
abençoe a água e tudo que é vivo Senhor. Pois Tu és o DEUS VIVO. Amém!!!Aloha!








Um comentário:

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    Obrigada pela divulgação, e até mais!

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